terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Isto é apenas um teste

E então você descobre uma ferramenta que aniquila com suas ilusões de ter sido compreendida através das coisas que escreve a respeito de si mesmo. 
Pelo simples fato de que as visualizações são rastreadas por sistema operacional e país. Ah, que pena.

Mas você, que por alguma razão acabou parando aqui e teve a curiosidade de ler qualquer coisa, por gentileza, deixe um comentário, um oi já serve. É apenas um teste. Eu quero saber se você me leu.

Obrigada. 

Hoje fui visitar o túmulo da minha avó, falecida em 25 de Dezembro de 2006. Precisei de mais do que coragem. Devo ter prometido a mim mesma que jamais iria lá um milhão de vezes, mas cansei de ouvir que tenho que deixá-la ir em paz. Decidi que diria adeus - uma conversa franca, só eu e ela. 

Assim, pedi à minha família que me deixasse ali com ela sozinha um pouco. O sol estava em seu ponto mais alto, o mármore quase queimava ao contato com a pele, mas insisti e permaneci sentada sobre seu túmulo. Primeiro chorei o que precisava chorar. E parece que eu tinha muito o que chorar. Fiquei tímida, não sabia como começar uma conversa com alguém que amo tanto depois de sete anos. Era estranho, mas precisava exercitar a minha fé de que ela podia me ouvir naquele momento. Não sei se algum dia terei algo assim com a minha mãe. Mas com a vovó, eu sempre tive. Éramos amigas, comparsas, éramos feito unha e carne. Eu não queria imaginar um mundo em que ela não existisse - isso era pior que a própria morte, até que a morte finalmente chegou e a tomou de mim abruptamente, numa manhã de Natal que ficou gravada pra sempre, me lembrando de que se antes havia algum motivo para comemorar - e havia, pois ela também nasceu em 25 de Dezembro - agora já não há mais.

O problema é que com a morte dela, nossa ligação com a família meio que esfriou. Da minha parte, foi por puro medo de encarar os lugares que ela ia, as pessoas que ela via, as cidades que ela costumava visitar. Eu simplesmente não queria passar perto de qualquer coisa que me fizesse lembrar. Mas essa é a família que ela tanto amava. Claramente havia algo de muito errado que precisava ser resolvido. Entendi que esse deveria ser então o primeiro passo. A última vez que estive na casa da minha tia avó foi justamente no dia do enterro da vovó. E eu sempre amei demais as duas. Aliás, elas pareciam gêmeas - física e psicologicamente falando.

Comecei dizendo que era difícil estar ali, e de fato, a sensação de vazio parece te dominar por completo. Mas aos poucos, meu monólogo começou a fluir e expliquei o motivo de ter ido até lá, as razões de ter ficado tanto tempo sem fazer uma visita sequer... E terminei dizendo que iria voltar - não porque teria que me despedir de novo e de novo, mas apenas porque ela sempre me falou daquele cemitério como sendo um lugar de descanso das pessoas que ela mais amou na vida, e que era onde ela gostaria de poder descansar. Ela tinha muito respeito por todos ali. E eu devo esse mesmo respeito à ela. 

O caminho para se chegar no cemitério é lindo. Uma estradinha cercada de árvores que dão flores o ano todo, aquela sombra bonita fazendo desenhos no capô do carro, a distância em si - você tem que fazer uma pequena viagem de uns quarenta minutos para chegar até lá. Passamos por sítios, pelos cruzeiros, pelos pequenos botecos rurais, e, finalmente, a estradinha de paralelepípedo que dá acesso ao cemitério. 

Todo o percurso meio que te prepara espiritualmente para o que você verá depois. E, depois, o silêncio é ensurdecedor. 

Não foi triste, foi apenas pesado. Difícil. A saudade parece ganhar forma. É estranho. Mas eu fui. Fotografei  a lápide. Eu quero me lembrar dessa imagem, porque era exatamente assim que ela sempre me disse que queria poder descansar no fim.

De cima para baixo: minha avó, Natalina Coleto. Meus bisavôs, Florinda e  Cesare Coleto, meu avô Antonio Coleto e meu primo, Mauro Cezar Coleto.