quarta-feira, 28 de maio de 2014

Medo de voar

Olhando a foto que tirei de dentro do avião enquanto ia da Áustria para a França em 2012, percebi que tenho medo das coisas que mais amo. Sempre achei aeronaves lindas, leio muito sobre elas, sei dizer o nome do fabricante olhando o nariz do avião ou suas asas. Conheço a linguagem. Amo as aeronaves, desde um teco-teco, A380, Beluga ou Antonov. Amo essas máquinas, mas morro de medo delas.
Não consigo me ver viajando como meus colegas de trabalho fazem. Pra eles, é tudo muito normal, é só entrar, sentar e relaxar.
Eu entro tremendo, sento chorando e fico com o nariz literalmente colado na janela do avião, observando cada movimento, gritando involuntariamente cada vez que o avião precisa fazer uma curva e sua asa se inclina para além do meu campo de visão das montanhas abaixo das nuvens. Deixo o copo cheio de água para tentar captar as turbulências mínimas. E quando saio do avião, sinto pena de mim por não ter aproveitado o momento em que “passeei entre as nuvens”. Continuei viva, sem um arranhão sequer, mas só me permiti sofrer enquanto meu corpo inerte viajava a setecentos quilômetros por hora, a onze quilômetros de altura. Toda vez que coloco os pés no chão depois de voar, tenho essa mesma sensação.
Mas nunca havia parado para pensar a respeito. Na verdade, esse medo não é somente de voar.
Sonho que estou voando às vezes. Aprendi que mesmo que eu caia, não vou morrer, então nunca sinto medo. Já vi aviões caindo em sonhos inúmeras vezes. Vi tanta gente morta, machucada... Vi tanta explosão. Exceto quando eu estava também a bordo.
Então, entendi que o medo é na verdade de todas as coisas que eu não posso controlar.
O homem ao meu lado na cama é o cara por quem sou apaixonada. Ele tem os olhos cheios de paixão e toca meu rosto suavemente enquanto me pede para confiar em suas palavras.
“Eu te amo muito”
Sou irrevogavelmente apaixonada pela sua pele, cheiro, textura, sabor, calor... E acho que ele é meu avião. Sinto medo por não poder controlar absolutamente nada. Não sei quem está no comando – sei que não sou eu.
Ele corre na estrada e eu me agarro à bolsa, ao cinto de segurança, fico imóvel, sinto as mãos suando a ponto de pingar. E novamente, olha na minha direção e diz: “confie em mim”.
Sou um muro de concreto e aço quando se trata dos meus medos, porque abandoná-los significa abrir mão de estar segura. Só que vivo tentando espiar o mundo do outro lado.
Encaro tanta coisa com braveza... É uma pena que eu sinta medo justo daquelas que mais amo.
Os aviões deveriam me amar incondicionalmente. E deveriam ser pilotados só por mim. Assim eu estaria no controle. Eles não cairiam. Eu não cairia. E a paisagem seria sempre de tirar o fôlego – só que sem o susto.
Se o mundo fosse meu e eu tivesse esse poder, as coisas seriam assim.
Por enquanto, só posso desejar que minha respiração não falhe, e que o meu amor consiga perdoar tanto medo. Eu não quero cair. Eu quero apenas voar.
~~
AM




segunda-feira, 19 de maio de 2014

Nós, mães, somos LOUCAS.

Hoje, por uma necessidade pessoal absoluta, pausei minhas atividades para escrever breves linhas acerca de um assunto que venho tentando dominar nos últimos dezesseis anos: a maternidade. Ocorreu-me que não existem mães normais. Somos todas loucas. Nenhuma outra criatura na terra é capaz de suportar tantas intempéries, tanto sufoco, sofrimento, abandono de si, solidão, muitas vezes até fome – tudo, tudo para garantir que aquela pessoinha que foi gerada dentro de nós tenha o que precisa para viver e ser feliz. Vejo-me no espelho com aquelas marcas de cansaço no rosto, as linhas abaixo dos olhos que agora já não voltam mais como antes após as primeiras horas do dia... Tudo mudou. Ser mãe de um bebê é cansativo, corrido, dá trabalho, mas neste estágio, ele depende inteiramente de nós e isso nos faz sentir verdadeiras guerreiras. Um bebê faz da mãe a criatura mais poderosa e mágica do mundo. Só que filhos crescem. E nós temos que crescer e amadurecer com eles, às vezes não sabemos como fazê-lo. Surtamos. Eu grito, choro, esperneio, eu tento de todas as formas segurar a minha cria pelos últimos finos fios que a prendem junto a mim. Tenho medo por ela do mundo lá fora, durmo mal e apenas algumas horas picadas, e tem noites em que aguardo olhando pro relógio, acesa, exausta, mas incapacitada de dormir – sempre esperando a princesa que eu fiz nascer chegar sã e salva.
Eu quero dizer que, se pudesse voltar no tempo, teria sido a melhor filha do mundo para minha mãe. Teria feito massagem nos pés dela todo final de dia. Teria colocado rodelas de pepino em seus olhos antes de dormir. Eu teria preparado seu café da manhã e garantiria elogios da professora apenas para vê-la se orgulhar de mim.
Verdadeiras mães corrigem, berram, dão os tapas necessários para que a vida não o faça com mais violência e sem amor algum.
Nós somos todas loucas. De amor por esses seres que às vezes nos fazem chorar, perder cabelos, perder o dia de trabalho, o sono, a fome. Somos loucas porque dependemos da felicidade deles para sobreviver.

Filhos... Amem suas mães. Amem! Amem muito. E cuidem, porque apesar de parecermos super mulheres, nós também sentamos num cantinho pra chorar. Nós morremos de medo. Nós temos que guardar nossas fraquezas na ultima gaveta do armário antes de acordá-los pela manhã com o sorriso carregado de amor. Somos frágeis. E vocês são nosso mundo. 
Mães, vocês são as maiores heroínas de qualquer tempo. De qualquer história. De qualquer fé.