sexta-feira, 4 de julho de 2014

Eu fecho os olhos

Parafraseando Clarice Lispector, "não sou triste assim, é que hoje estou cansada". Incontáveis letras de músicas me vêem à cabeça enquanto monto frase após frase.
Em "Only God Knows Why", Kid Rock disse: "eles dizem que todos os homens sangram como eu, e eu acho que esse é o preço que se paga por ser o tipo de pessoa que sou (...)".
Nossas vidas são de modo geral bem parecidas especialmente nos baixos. O que nos diferencia, talvez, seja a forma que cada um lida com seu momento ruim.
Eu não sei se tenho um padrão para esse tipo de momento. Quando vem, em geral, é de surpresa e quase sempre não estou com todas as palavras certas prontas. Às vezes sequer sei o que dizer. E em determinadas situações, preferi simplesmente fechar os olhos para poder suportar. Como quando o cérebro manda uma mensagem para todo o corpo dizendo que é hora de desligar para sobreviver. Então desmaiamos. E quando acordamos, há um sedativo pingando com o soro direto em nossa veia. Estamos deitados, sendo observados com cautela, sendo cuidados por outras mãos, que não as nossas. Tudo, tudo para que o coração consiga se restabelecer e prosseguir por mais alguns anos. 
Fechar os olhos, mesmo sabendo que ao abri-los, o pesadelo ainda estará lá, fez com que eu suportasse quando não havia mais um pingo de energia ou número de telefone para o qual pudesse ligar. 
Foi apenas um "modo de segurança". Solitário, errôneo, criado involuntariamente por mim, e trabalhei com o mínimo das funções para poder fazer uma reinicialização que não causasse danos.
Mas há efeitos colaterais para tudo. Qualquer tratamento com qualquer tipo de remédio tem seu preço. Pode custar a saúde do fígado, dos rins, do cérebro... Há sempre um preço.
Quanto custa hoje o meu fechar de olhos? Mais do que há em minha conta. Mais do que há em meus músculos, nervos, ossos, mais do que há em cada célula do meu corpo.
E desistir não é uma opção. Só posso fechar os olhos temporariamente, porque preciso do dia seguinte. Preciso de mais uma manhã, porque ainda não acabou. Preciso de alguns anos e, acima de tudo, preciso acreditar que faz sentido operar desta maneira.
Porque ainda não encontrei outra forma de sobreviver. A única coisa que me fez sair correndo com lágrimas nos olhos - sempre - foi ela. 
A única razão. A única missão. E eu falho mais do que acerto. Mas não desisto. Quanto está doendo agora?
Tanto quanto se pode suportar ou talvez um pouco mais.
Mas não sou triste, nem uma perdedora. Não sou fraca, nem indecisa.
Não sou de aço, mas não abro mão sem lutar até não me restar mais nada. E quando não houver mais nada, fecharei novamente os olhos e esperarei até a pior parte passar. E que Deus me ajude. Que eu tenha a chance de acordar medicada, sedada, que eu tenha a chance de continuar. 
Quero não perder a fé em minha capacidade de sobrevivência. Quero não perder a fé em minha capacidade de ensinar. De educar. De ser lembrada não apenas pelas dores que possa ter causado, pelas cicatrizes que tenha deixado, mas também por todo amor que tentei dar. Não sou triste assim... É que hoje estou cansada.

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ASM