sexta-feira, 10 de março de 2023

Jornada íntima | capítulo 1

A jornada íntima 

 (música: Lana Del Rey - Angels Forever)

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."
- José Saramago

 Fiz as malas ainda com frio na barriga. Maio – mês de chuva e frio, mês do meu aniversário. 
Havia chovido a noite toda, e aquela madrugada estava especialmente gelada. 
Tudo contribuía para alimentar meu medo de revisitar o que um dia foi o lugar mais feliz do mundo – ao menos para mim. 
Estava acariciando o pelo macio do meu cachorro enquanto tomava a terceira xícara de café da madrugada, ouvindo a programação de uma rádio local – "nossa música". Que conveniente, pensei.
 Momento perfeito para pensar se não dá tempo de desistir dessa loucura toda. 

 “É claro que não vou desistir agora. Não, porque afinal de contas, talvez eu não esteja fazendo esta viagem por ele. Talvez seja por nós. Por mim, pelo que senti, por tudo que vivi. Pelas lembranças e, acima de tudo, pelo que aprendi. Existe uma salvação, e eu a quero. Quero viver longos anos ao lado dos amores da minha vida.”

 Balancei a cabeça positivamente, como quem se certifica de ter tomado a decisão certa. De algum modo, era uma viagem inesperada e, até certo ponto, insana. Por que uma pessoa normal sairia do conforto do lar para estar sozinha num lugar praticamente deserto? Por que eu – especialmente eu – faria algo assim? Parecia comigo. E muito. 

Definitivamente, desistir não era mais uma possibilidade. Carreguei o carro e voltei para apagar as luzes e me despedir do Tom, meu cachorro. “Seja o que Deus quiser, eu não vou desistir.” Olhei novamente para todos os itens dentro da minha bolsa – não queria esquecer nenhum detalhe, nada que pudesse me fazer falta, afinal, desta vez, eu estaria sozinha. Entrei no carro devagar, respirando pausadamente.

 O coração, no entanto, não era capaz de conter a tensão – batia acelerado. Era difícil refazer aquele percurso, não se tratava de uma viagem comum, férias do trabalho, nem nada do gênero. Seis horas de estrada até meu destino final - um pequeno chalé numa ilha perto de Angra dos Reis. Quem ousaria uma viagem para o litoral no outono? Eu. Quem faria isso completamente só? Eu, novamente. 

Mas não sem uma boa razão – aquele deveria ser o desfecho de minha jornada pessoal – estar novamente na ilha para onde fui exatamente um ano antes em companhia do homem que transformara minha vida completamente. A princípio, esta primeira viagem deveria ser um reencontro de amigos, alguns dias tranquilos para selar de vez a paz após anos de conflito e silêncio. 

Eu não sabia, no entanto, que minha vida mudaria radicalmente a partir daqueles dias à beira mar. 
 Para entender o motivo do meu retorno à ilha, é preciso saber o que aconteceu quando estivemos lá pela primeira vez. Meu então melhor amigo e eu conversávamos como de costume pelos bate-papos das redes sociais. Havíamos brigado por motivos bobos inúmeras vezes, mas o tempo passou e ficou claro que precisávamos deixar certos fantasmas para trás. Uma nova consciência do bem que fazíamos um pelo outro cresceu e entendemos que era hora de passar novamente algum tempo juntos – como acontecera tantas vezes no passado.

 As ideias loucas sobre viagens sempre partiram dele, e esta não foi diferente.
 - Estive pesquisando alguns lugares, acho que encontrei o que parece ser o ideal para colocarmos todas as nossas pendências em dia.
 - Pendências, Michael? - Sim, temos várias pendências. E vamos resolver todas em nossa próxima viagem... Que deve acontecer... Vejamos... Na semana do seu aniversário, que tal? 
 - Para onde está pensando em me levar desta vez? 
 - Uma ilha. 
 - Uma ilha? Você sabe que em Maio faz frio, certo?
 - E daí? Eu também sei que você não gosta de tomar sol. Ilha e frio combinam bem com você. 
 - O tempo passa e você continua doido. - Sempre doido. Já tenho seus dados na memória, vou fazer a reserva do chalé. E não tem conversa. 
 - Que medo de você, Michael! 
 - Você ainda não viu nada. Vou desconectar. Te ligo para confirmar o dia de nossa partida. Arrume sua mala, minha cretina favorita. Nós vamos passear. 
 - Muito bem! Falamos em breve. 
 Sentia como se tivesse voltado no tempo depois daquela conversa sobre nosso destino. 
Havíamos feito tantas viagens assim no passado, e eu não tinha mais esperança de um dia voltar a viajar com ele. 
Nosso passado de longas e divertidas conversas, as incontáveis madrugadas que havíamos passado rindo de todas as coisas – até as mais insignificantes eram motivo para boas gargalhadas. Ter aquela magia de volta era como receber um presente. 
O melhor presente que se pode desejar. Como combinado, na semana do meu aniversário, parti para encontrá-lo em São Paulo. Iríamos com meu carro até Angra dos Reis, e, de lá, uma lancha nos levaria até a Ilha de Cataguases. 
 Observava atentamente cada um que entrava e saída do Paulista Center Hotel, até que, finalmente, o homem do sorriso mais lindo do mundo passou pela porta. Mochila nas costas, tênis, calça jeans surrada, moletom e uma mala pequena. 

 “Ele não mudou nada... Continua lindo demais!” 

 Ao vê-lo após longos dois anos de distância total, não pude conter a alegria, que rapidamente se transformou em lágrimas. Saí do estacionamento e corri em sua direção. 
 - Não acredito que nos encontramos outra vez! Faz tanto tempo! Que saudade desse sorriso! 
 - Vem cá, menina!
 Nunca soube descrever a sensação que me toma quando abraço alguém que amo. Especialmente naquele momento, seria impossível colocar em palavras a sensação tamanha de euforia que dominava cada parte de mim. Eu era pura felicidade, dos pés à cabeça.
 - Esse perfume! Eu conheço... Espera, não fala o nome... “Amor Amor”, acertei?
 - Em cheio! 
 Ah, ele se lembrava do meu perfume! Era um belo começo.
 - Onde está seu carro?
 - Deixei ali no estacionamento.
 - Então não vamos perder tempo... Temos que comer muita poeira até chegar ao nosso destino de outono.
 - Ainda não acredito que estamos indo pra uma ilha com esse frio... 
 - Relaxa, minha querida... Confie em mim, serão dias inesquecíveis. 
 - Eu não tenho dúvida disso. 
 Colocamos as coisas dele no carro e entreguei-lhe o molho de chaves. 
Eu não fazia ideia de como chegar à Angra dos Reis. Ele teria que ser o motorista da vez.
 - Vamos voar! 
 - Nem pense nisso! Trate de dirigir sem pressa. 
 - Ainda não perdeu o medo da velocidade, mocinha?
 - Nunca perderei. Nem de altura, nem d... 
 - Avião?
 - Jamais!
 Ele riu da forma como enfatizei o medo de voar. Lembranças do passado imediatamente vieram à tona. A chuva não parou, de modo que pude me tranquilizar – não seria possível “voar baixo” como ele tanto gostava de fazer. 
 Falamos sem parar, retomamos as últimas conversas que havíamos tido recentemente pelas redes sociais e assim o dia passou rapidamente e mal notei quando entramos em Angra dos Reis. - Estamos quase lá... 
 - Para onde vamos agora? 
 - Deixar seu carro no estacionamento da agência que loca os chalés na ilha. É perto daqui.
 - Agência... - Não achou que fôssemos de carro pra lá, achou? 
 - Como você é bobo! Eu não achei nada disso! Já estivemos em ilhas antes. 
 - Nenhuma como esta, te garanto. 
 - Ilha Bela, esqueceu? 
 - Não chega nem perto... Estou dizendo. 
 - O que tem de tão especial nessa ilha, afinal? 
 - Nós. E mais ninguém. É isso que ela tem de especial. 
 - Estará deserta mesmo? 
 - Com exceção do caseiro, imagino que sim. A ideia é essa. 
 - Não precisava ser tão deserta... 
 - Não quero distrações por lá. Vamos relaxar, curtir nossos dias juntos, falar abobrinhas, contar histórias tão velhas quanto guaraná de rolha... Tive que rir alto. 
 - Você e esse seu guaraná de rolha. 
Lembro quando ouvi essa expressão pela primeira vez. Ri por horas.
 - E você se acha a mais engraçada. 
 - Quem disse que eu era a mais engraçada foi você, monstrengo. 
 - Que medo dela, meu deus! - Boo! 
 - Você continua não valendo nada, cretina. 
 - Esse apelido é meu. - Meu. Você me deu.
 - Isso faz de você o cretino. 
 - Os dois, então. Cretina! 
 O check-in foi rápido, como imaginei que seria, já que não havia muita gente louca o suficiente para encarar o mar com aquele tempo fechado. Isso sem mencionar o frio que fazia naquela tarde. Embora odiasse a ideia, tentei encarar numa boa a curta viagem de lancha até a ilha. 
Mar, altura e velocidade não foram feitos para mim. Ignorei até onde pude, mas tive que gritar quando pareceu que a lancha ia virar. 
Os pingos gelados da garoa se misturavam aos do mar, causando uma sensação de frio ainda maior. O velhinho que nos levava apontou para a ilha, indicando que estávamos – até que enfim – chegando ao nosso destino. 
 - Precisava mesmo ser tão longe? 
 - Você tem quantos anos, mesmo? Setenta?
 - Vou ignorar este comentário. Odeio barcos.
 - Isso é uma lancha. Barco é outra coisa. 
 - É tudo a mesma coisa. Balança, não é seguro. 
 - Você está usando colete, velhota. Não vai morrer, não! Calma... 
 Enquanto Michael ria até perder o fôlego, eu segurava para não chorar de tanto medo. Felizmente, o simpático caseiro não demorou a encostar a lancha no píer. 
Ainda sentia medo, era fundo demais para mim naquele ponto, e a sensação de que meu corpo se lançaria ao mar involuntariamente não estava sendo de grande ajuda. Michael subiu ao píer antes de mim, e em seguida estendeu o braço para apoiar minha subida. 
Quase voei para a areia logo que pude tocar os pés na madeira envelhecida do pequeno píer. Mais risadas. 
 - Calma, minha filha! Preciso de ajuda com as malas, volta aqui! 
 - Não volto nem morta. Traga as malas até aqui que eu carrego.
 - Você é impossível! 
 O caseiro se juntou a Michael nas gargalhadas. Que ótimo. Agora eram dois idiotas rindo de uma situação tão delicada!
 - Você não tem medo de nada por acaso? 
 - Tenho medo de muita coisa, mas certamente não de um píer indefeso. 
 - Não vai parar de rir, mesmo? 
 - Parei, juro. 
 Não, ele não parou. Mal virei de costas e já pude ouvir o som estridente de sua gargalhada ensandecida. 
 - Tudo bem, pode rir. Não ligo. Vou descobri um medo seu qualquer dia desses e vou fazer você pagar por esse vexame todo que está me fazendo passar na frente do caseiro.
 - Vai, nada. Até descobrir um medo meu, eu já terei morrido de tanto rir de você. 
 - Palhaço. 
 - Bobona. 
 - E essa chuva, não para nunca? 
 - Não vamos acampar, mocinha. Que diferença faz se a chuva não parar? 
 - Vai ficar enclausurado no chalé, por acaso? 
 - Por mim, não há problemas. 
 Parei para ver sua expressão. Ele parecia falar sério, e aquilo era novo para mim. Não seria nossa primeira viagem juntos, nem a primeira vez que dividiríamos o mesmo espaço, mas, por alguma razão, aquela resposta soara diferente. 

 “Não começa com pensamentos idiotas, pelo amor de Deus...”

 - Acho que chegamos. 
 - Qual deles?
 - Estamos no número três. É aquele ali.
 Michael apontou para a direita. Caminhei até a entrada do simpático chalé de madeira. Parecia com os que eu costumava frequentar com os amigos em São Pedro, exceto pelo ar mais requintado. 
 O caseiro veio conosco até a porta de entrada do chalé e nos deu as boas-vindas à ilha. 
 - Aqui estão as malas. Se precisarem de mim, estarei na casinha ali da frente. É só chamar pelo Toninho. 
 Apesar de pequeno, o chalé tinha tudo que poderíamos precisar e parecia bastante limpo. 
A única cama de casal estava bem feita, com lençóis brancos e muitos travesseiros. 
Havia uma mesa redonda bem ao centro, uma pia pequena, armarinhos com panelas, pratos, taças, xícaras e copos. A geladeira já estava abastecida com comida fresca. 
 Um pequeno banheiro do lado esquerdo da cama, também extremamente limpo. 
Fiquei um pouco surpresa com os detalhes daquela casinha de madeira – lembrei-me de quando me mudei da casa dos meus pais para um apartamento no centro de Campinas. 
O chalé era infinitamente melhor estruturado. 
 - E essa única cama aqui? 
 - Algum problema em dividir a cama com um velho amigo? 
 - Se for apenas para “dividir” a cama, não.
 - Tem um monte de travesseiro aí, se sentir medo de mim à noite, é só fazer uma barricada e estará protegida.
 - Tenta de novo.
 - Tentar o quê? 
 - Outra piada. Essa não teve graça. 
 - Senso de humor de gente com alma idosa é um problema, mesmo. 
 - Essa também não foi boa. 
 - Estou brincando, mocinha. A ideia é relaxar. Vamos manter uma margem de segurança, não se preocupe. Não vou te agarrar enquanto dorme.
 Esse era o nosso normal. 
Um fazendo piada com o outro, sem medo de arriscar uma frase que pudesse soar grosseira. 
Nossos melhores momentos enquanto amigos foram sempre regados a muito humor ácido e pouco pudor. 
 Nesse clima amistoso, arrumamos nossas coisas e preparamos um lanche para o fim da primeira tarde na ilha. Os dois primeiros dias foram de chuva, então não havia muito a se fazer. 
Pusemos todos os assuntos em dia, e ainda assim, os assuntos brotavam e pareciam longe do fim. 
 Numa noite mais tranquila e sem chuva, decidimos tentar acender uma fogueira na areia com gravetos secos providencialmente encontrados dentro do armarinho debaixo da pia. 
Pareciam ter sido deixados lá para uma ocasião como aquela. 
Estendemos um lençol sobre a areia e preparamos uma espécie de piquenique ao luar. Bebíamos um vinho branco que ele havia comprado no sul do país e mordiscávamos cubinhos de queijo, sempre ao som das nossas bandas favoritas – o clima estava muito agradável, a atmosfera parecia contribuir de todas as formas para que nos sentíssemos muito à vontade. 
No meio das conversas acerca de todos os assuntos possíveis, terminamos justamente naquele que eu teria evitado enquanto pudesse – meus sentimentos por ele. 
Não mencionei ainda, mas tínhamos apelidos – apelidos especialmente criados por nós e para nosso uso privado: ele me chamava de Boo (porque eu era “assustadoramente engraçada”) e eu o apelidei carinhosamente de Monster (porque ele era meu monstro favorito). 
Foi fácil deixar nossos nomes de lado para nos tratar pelos apelidos, como fazíamos anos atrás. 
- Vamos lá, Boo... Não tem motivo para limitar as verdades... Acho que já passamos dessa fase. 
- É redundante, você sabe o que acontece comigo melhor que eu mesma! 
- Eu sei o que vejo, não faço ideia do que se passa aí dentro... Ele apontou para meu coração, e depois, para minha cabeça. 
- Sabe, sim, Monster. Sempre soube. 
- Você nunca me disse uma palavra, gostaria de ouvir o que acha que eu sei – mas ouvir de você. Não da sua melhor amiga, nem ler em seus textos. Quero ouvir de você! 
- Meu Deus! 
Virei a taça de vinho e tentei me levantar, mas fui segurada por ele antes que pudesse sair do lugar. 
- Olhando nos meus olhos, Boo. Por favor, fala. 
- Eu não me lembro de termos acordado nada que envolvesse uma confissão forçada, Monster! E por favor, pare de me encarar! Odeio quando faz isso. 
- Odeia? 
- Muito. 
E continuávamos mirando um ao outro. 
- Conta o que acontece com você e eu paro de encarar esses olhos enormes e lindos. 
- Está flertando comigo, Monster? 
- Você saberia se isso fosse um flerte. 
- Vindo de você, eu nunca sei de nada. Essa é a parte ruim da coisa toda: não sei o que esperar de você. Estou surpresa com essa sua pressão. Achei que não queria mais tocar nesse assunto. 
- Mudei de ideia. Agora eu quero. 
E não deu tempo de responder, porque ele me puxou para mais perto e calou minha boca com um beijo que me fez perder a noção de minha própria existência. Estávamos levemente embriagados, mas eu sabia que meu estado de consciência ainda estava intacto, então julguei que o dele também estivesse. Muita informação, de qualquer forma. Eu só consegui abrir os olhos alguns segundos depois que ele parou o beijo. 
 - Eu não lembrava mais como era, sabia que tinha gostado do seu beijo, mas não lembrava mais. Você manda bem, Boo. - Você é a pessoa mais idiota que eu já conheci. Definitivamente. 
- Desencana, por favor, ok? Estamos aqui, a noite está linda, tem uma lua imensa no céu, que tal apenas aproveitarmos tudo que temos hoje e esquecer do resto? Me conta seus segredos, Boo. 
Eu não vou sair de perto, não vou correr de você, quero que seja honesta comigo pelo menos uma vez. Já te pedi antes para ser franca quanto ao que sentia, e você preferiu sair de cena. 
Agora nem eu, nem você temos pra onde ir. Somos só nós aqui. 
- Você sabe de tudo. 
- Boo! 
- Monster, eu não consigo controlar minhas pernas agora. Eu não consigo falar direito porque parece que meu coração está escapando de mim. Não posso nem gritar porque minha voz está sumindo. Minhas mãos tremem, minhas bochechas estão queimando. 
Pronto! Desenhei com sol e nuvens. Está claro agora? 
- Não, não está! 
- Seu idiota, sai da minha frente!
 Empurrei seu corpo com as mãos fechadas e, num esforço visível, controlei minhas pernas a ponto de conseguir me movimentar sem tropeçar. 
E novamente, fui puxada por ele. Já sentia as lágrimas caindo, e se virasse o rosto, ele veria. 
Quando finalmente conseguiu me virar para sua direção, cobri o rosto com as mãos, e ele as puxou com força suficiente para conseguir me ver. 
Michael

- Você tem vergonha do que sente por mim? 
- É uma vergonha não ter o que fazer com isso. Não tenho vergonha do que sinto, apenas não há utilidade para esse sentimento. 
- Olha pra mim, Boo... Ergui os olhos molhados e não tentei mais impedir as lágrimas. 
- O que você quer? O que quer, Monster? 
- Quero ter um fim de semana perfeito com você, quero que tenhamos as melhores lembranças desses dias. As melhores, Boo. Sem reservas. Quero te conhecer, quero que me conheça. Quero ficar aqui com você até o último segundo do último momento. Só que não temos muito tempo, então eu gostaria que fôssemos honestos, que nos deixássemos levar, e que a natureza se encarregue do resto. Não somos mais crianças, eu sei o que quero agora, sei do que preciso. Por favor, Boo, esquece o mundo, esquece o medo, a dúvida. Pensa que agora estamos aqui – estamos juntos e não há nada entre nós. Não há passado, só existe o agora. O presente – nosso presente.
 - E depois? 
- Não tem depois, Boo. Só temos o agora. E eu preciso de você agora. Entendeu? A-go-ra!
 - O que quer dizer com isso, Monster? Do que está falando, exatamente?


(continua)...

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